Um detalhe que passa despercebido e que dificilmente as pessoas param para pensar, mas que depois de entendido faz todo sentido, é a posição, ou, mais precisamente, o lado da carroceria do automóvel onde fica o bocal de acesso ao tanque de combustível.
Independente se o veículo for movido a gasolina, álcool, diesel (combustíveis fósseis e de biomassa), o bocal deve ficar sempre do lado onde senta o motorista, para permitir que ele verifique o abastecimento pelo espelho retrovisor externo, que, inicialmente, só existia do lado do motorista, sem precisar desembarcar e se submeter às intemperies, numa época em que, na Europa e EUA, o serviço era realizado por frentistas (hoje é self-service). Coisas como tipo de combustível, vazamentos, tudo controlado pelo retrovisor externo.
Ok, e por que alguns bocais ficam no lado oposto ao do motorista? A resposta requer algumas observações. Tudo depende do país de origem do projeto do veículo. Como todos sabem, na maior parte dos países, o volante fica à esquerda e dirige-se pela pista da direita. Mas alguns lugares, a minoria, adotaram o sistema britânico, com o volante à direita e a direção pela pista da esquerda, a chamada mão inglesa.
Seguindo a regra de projetar o bocal do abastecimento no lado do motorista, os veículos projetados em países de mão inglesa terão o bocal neste lado.
Assim, um veículo projetado na Inglaterra, mas adaptado para o Brasil, como muitos da Ford, sempre terão o bocal no lado direito da carroceria. Ao passo que veículos projetados na França, Alemanha, Itália, Espanha, Estados Unidos, etc, terão o bocal no lado esquerdo. Tudo conforme a mão de direção.
Ah, mas por que a posição do bocal não é invertida no processo de adaptação ao país onde será fabricado, como ocorre com a direção e os instrumentos do painel? Porque as chapas que compõem a carroceria, chamadas de painéis, são fabricadas através do processo de estampagem, que requer grandes prensas hidráulicas, que possuem grandes moldes capazes de conformar a chapa de aço de 1,2 mm ao formato necessário. Para inverter o lado do bocal de acordo com o país para onde o carro ou sua fabricação vai ser realizada, seria necessário desenvolver moldes invertidos e isso encarece o processo de fabricação. A solução para este problema surgiu com a popularização nas décadas de 80 e 90 do espelho retrovisor auxiliar do lado oposto que, apesar d ser convexo e exibir os objetos mais distantes que realmente estão, ainda assim serve para observar o abastecimento, sem a necessidade de alterar a estamparia, a um custo infinitamente menor. Inicialmente um acessório de segurança, que resolveu o problema do abastecimento assistido.
Como hoje em dia poucos países ainda possuem mão de obra barata que justifique o atendimento em postos de combustíveis, o significado dessa questão acabou se perdendo. Mas em alguns veículos, no indicador do nível do combustível, ainda há uma seta bem discreta apontando para o lado certo do bocal, orientando o motorista de que lado da bomba parar. Se todos soubessem disso, os postos não precisariam instalar mangueiras de abastecimento tão longas e dispendiosas, o que talvez se refletisse em custos menores e preços mais baixos ao consumidor.
Enfim, um pouco de conhecimento que muitos gear heads talvez ainda não tivessem.
